Se você não é carioca, talvez não conheça o Cacique Cobra Coral.
Assim como não conhece o cara que gritava “abacaxi” na praia
nem a mulher de branco de Ipanema, que hoje só usa azul.
O Cacique Cobra Coral não é um cacique,
nem uma cobra, e menos ainda um coral.
Ele é um espírito, espírito que hoje encarna
na médium paranaense Adelaide Scritori,
mas já encarnou antes no Galileu Galilei e no Abraham Lincoln.
Sim! Só que agora, depois de descobrir que a Terra gira em torno do Sol,
e depois de acabar com a escravidão nos EUA,
o espírito tem se dedicado a uma tarefa mais modesta:
controlar a chuva para que não caiam tempestades em grandes eventos.
Sim, no Rio de Janeiro, o Cacique faz uma espécie de dança da chuva reversa,
ou uma dança da seca.
Para isso foi contratado por diversos empresários
e por prefeitos do Rio, como Eduardo Paes e Cesar Maia.
Fiquei 8 anos com a cidade como uma espécie de uma ilha no Brasil,
onde, que nem aquele desenho animado, chove em todo lugar
e tem um ponto que não cai na cabeça do sujeito que anda?
Já comecei a ficar meio impressionado
com o nosso Cacique Cobra Coral.
O senhor é católico. Teve alguma contradição entre a sua posição pessoal
e a observação desse fenômeno
que, enfim, tem mais a ver com as coisas ocultas?
Olha, eu sou brasileiro, sou carioca e sou Botafogo.
Você vê que o Cacique pode até fazer com que a chuva não caia,
mas não consegue impedir o Botafogo de cair, Cesar.
Isso daí não funcionou, né?
É importante dizer que isso não é só o Cesar Maia.
Ele foi só um hipster do Cobra Coral,
o primeiro a usar antes de virar modinha.
Vários governantes apelaram para entidade.
E continuam apelando.
Talvez tenha ouvido falar essa semana no Cacique Cobra Coral.
Porque o governo Bolsonaro está conversando
com o espírito milenar para resolver a crise hídrica.
Aquela crise causada pelo desmatamento, emissões de carbono…
Mas dá muito trabalho mexer nisso,
melhor falar logo com o Cacique.
O mesmo governo que acabou de cortar 92% do orçamento da ciência,
incluindo todo o orçamento de pesquisa sobre clima.
Aparentemente, o Cacique Cobra Coral
é o único cacique que Bolsonaro respeita.
Talvez por não ser um cacique, mas uma médium paranaense.
Por que falamos disso?
Porque hoje a gente vai falar dela, a positividade tóxica,
que é o que faz com o que o governo acredite
que vai contornar a crise hídrica apenas com a força do pensamento.
Como sabe, o mundo está uma merda.
Se não sabe, bem-vindo ao Greg News,
o programa que o lembra que o mundo está uma merda.
E esse tom deprimente nem é uma imposição da HBO, tá?
É coisa minha mesmo. O pessoal da HBO não é tão rígido.
O que é sempre muito rígido e inflexível é outra coisa:
o pau do Kajuru, que nesse momento enquanto você está vendo, está duro.
Mas vamos deixar a prótese peniana do Kajuru de lado,
assim como ele deve fazer com a prótese, na cueca.
Falaremos de outras coisas duras e difíceis de esquecer.
Vamos resumir brevemente as nossas catástrofes:
vivemos na era das desigualdades extremas,
em que 1% de ricos concentram 50% da riqueza do nosso país,
enquanto quase 30 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza.
Hoje temos 14 milhões de desempregados.
Tem a pandemia, que piorou as desigualdades
e está levando o Brasil para pior crise econômica da todas
e já matou mais de 600 mil brasileiros,
além de mais 4 milhões de pessoas no mundo.
Ao mesmo tempo, a emergência climática
pode transformar o Nordeste em um deserto nas próximas décadas
e provocar longos períodos de seca no Centro-Oeste e na Amazônia.
A única pessoa que não vai ficar desempregada nesse país
é o Cacique Cobra Coral.
Ao mesmo tempo, nada disso parece abalar a cultura pop
que está mais otimista do que nunca.
Não importa o que aconteça no Brasil ou no planeta,
redes como o TikTok vão estar sempre repletos de gente seminua,
feliz e sarada, fazendo dancinha,
e mencionando coisas sérias como depressão,
abuso e ansiedade com um sorriso no rosto
e comemoração pelo número de seguidores.
“Minha ansiedade piorou demais.
Mas conheci vários TikTokers! Mas estou com depressão.
Mas aumentei os seguidores!”
Como se diz no próprio TikTok: “Vai se tratar, garota”.
E essa foi para o meu público TikToker. Quem não pegou é “cringe”.
Para quem não sabe, o “challenge” mais conhecido do TikTok
é justamente um que manda a garota se tratar.
E é muito curioso, porque são pessoas que não se tratam
mandando os outros se tratarem.
Esse é o TikTok, uma grande ciranda do “vai se tratar”.
E alguém se trata? Não.
Sendo justo, não é só a galerinha nova do TikTok
que entrou nessa vibe “gratiluz”.
A onda “good vibes only” pegou muita gente,
como Gabriela Pugliesi, claro, mais conhecida como Gabriela “Publiesi”,
que mandou o famoso “obrigado, coronavírus”.
Sim, ela falou isso lá no início porque o vírus, supostamente,
baixou a poluição e fez os pais ficarem mais com seus filhos.
É tipo dizer: “Obrigado, holocausto,
que nos deu o filme ‘A Lista de Schindler'”.
“Obrigado, iceberg, que me fez conhecer a Celine Dion.”
Depois da polêmica, Pugliesi fez um vídeo para se explicar.
Eu postei um vídeo meio que “agradecendo ao coronavírus”,
não agradecendo ao vírus, mas tento sempre na minha vida
ver o lado bom de tudo, de tudo!
Porque é isso que me faz viver feliz
e ter motivos para viver todos os dias que eu acordo.
Tenho plena consciência que tenho uma vida privilegiada, graças a Deus,
e por isso também eu sou muito grata,
mas sempre tive esse meu lado positivo
e de acreditar que as coisas não acontecem por acaso.
E que se tiver uma faísca de coisa boa em um monte de tragédia,
eu vou focar nessa faísca de coisa boa.
É isso vai crescer em mim, é nisso que acredito.
Engraçado que até para fazer um vídeo se explicando,
diz que foi cancelada e tal, ela faz malhando a panturrilha.
Ela deve morar em cima de um transport.
Acho que ela casou na esteira: “sim, eu aceito”.
Mas o que ela está dizendo é que ela é privilegiada sim, graças a Deus,
mas que nada disso é por acaso, e que o privilégio se dá
pelo fato dela ter pensamento positivo,
porque esse pensamento molda a sua realidade, amém.
Isso em cima de um transport.
Curioso que ela acha que o pensamento molda
a realidade toda ao redor dela, mas não molda os glúteos.
Para isso tem que trabalhar.
O resto é só pensar, os glúteos, não. Tem que ficar no transport.
Para muita gente, a felicidade vem da sua capacidade
de vibrar na frequência da abundância, e não da escassez.
Essa palavra está na moda.
Hoje existe o culto à abundância,
que virou um traço incontornável da cultura pop.
Em plena pandemia, junto com essa crise sem precedentes,
a gente não se ofende quando uma celebridade credita sua riqueza
às boas energias que ela emana.
Como a Giovanna Antonelli, que divulga suas técnicas
de geração de abundância amplamente por aí.
E meu mantra, praticado já há alguns anos,
mais de uns 5 anos, é o seguinte:
a abundância entra na minha vida de maneiras
surpreendentes e milagrosas.
Gente, eu aprendi há pouco tempo a da canela.
Todo dia primeiro do mês você tem que soprar três vezes para dentro,
canela, e passar no cabelo.
Quando a canela eu soprar, a prosperidade vai triplicar!
Amém, amém!
A última pessoa que triplicou a prosperidade graças à canela
foi D. Manuel, o Venturoso, rei de Portugal,
que trazia da Índia.
Giovanna Antonelli ganha dinheiro com perfume da Jequiti mesmo.
Gosto que diz que a abundância vai entrar na casa dela
de maneiras surpreendentes e milagrosas.
E realmente ela ganhou dinheiro na vida dela
fazendo papel de marroquina e japonesa.
É surpreendente e inclusive milagroso.
É claro que, no fundo, ser uma pessoa positiva não é ruim.
Manter um olhar otimista sobre a vida pode ser bem útil.
Em um momento como o nosso,
precisamos manter algum pensamento positivo,
para dar conta de tanta tristeza.
Mas existe um momento em que a positividade dá lugar
a um fenômeno bem mais preocupante que é a positividade tóxica.
Ou “tóchica”, nas palavras da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Trata-se daquela positividade que consiste em ignorar as coisas negativas,
controlar qualquer pensamento pessimista
e fingir que a vida não tem problemas.
Mas nem sempre dá certo, claro.
Um estudo feito na Universidade Harvard mostrou
que, quando a gente tenta controlar um pensamento ou emoção,
uma parte automática e inconsciente do cérebro passa
a monitorar o nosso progresso nessa missão.
Um outro estudo comprovou que, quanto mais a pessoa cria idealizações
sobre o que vai acontecer nos próximos meses, mais vulnerável ela fica.
Quando nos concentramos só em emoções positivas,
tendemos a ter uma versão mais infantil das situações,
e perdemos a capacidade de encarar os momentos difíceis.
Se você tem uma dívida, por exemplo,
não pensar na sua dívida só vai fazer ela crescer.
A definição de realidade é justamente aquilo que não deixa de existir
quando você deixa de acreditar.
Ou seja, parar de pensar em um problema só acaba com ele
se o seu problema for imaginário.
Por exemplo, a positividade é ótima para afastar o fantasma do comunismo,
a ditadura gay, o racismo reverso.
Mas para coisas tipo desemprego, inflação e fome,
ela não costuma funcionar muito bem.
A positividade tóxica ganhou muita tração nas redes sociais,
mas sobretudo no TikTok, uma plataforma que se baseia
na ideia de criar um lugar “mais feliz” para o usuário
a partir de uma mistura de inteligência artificial com burrice humana,
dado que o grande insight dos criadores é
que ninguém mais consegue prestar atenção em nada
por mais do que 8 segundos, em média.
O problema é que a positividade tóxica cria uma realidade artificial
com consequências na vida prática.
As pessoas criam uma bolha social para a realidade fazer sentido,
e passam a viver cercadas de outras pessoas positivas
que compartilham da mesma negação da realidade,
e só aceitam informações que corroborem
com a sua expectativa positiva.
E isso é o que os especialistas chamam de “lógica de condomínio”.
É quando você cria um mundinho particular e perfeito
regido por leis diferentes do mundo real.
Esse tipo de raciocínio provoca situações
como a das pessoas que acham
que basta pensar positivo para não pegar Covid.
Sim, a positividade tóxica é mãe do negacionismo.
Aliás, mãe, não. É pai ausente.
A positividade finge que não gerou o negacionismo
e não aparece na hora a limpar as cagadas que o filho faz.
Todo o mundo conhece pessoas como esse cara aqui,
dando entrevista em outubro de 2020:
Tenho saído, tenho curtido muito as baladas, as festas…
E volto para casa, tenho uma mãe de 78 anos, ela não pega Covid.
Eu acredito que essa doença é para quem já está fragilizado.
Ela não é para quem já está forte espiritualmente.
Não vai acontecer nada com quem está bem.
Já chegou a perder parente, ou sabe de algum amigo que perdeu?
Perdi. Já perdi duas tias por Covid.
Mas são tias de 80… Mais de 70 anos.
Mas e a sua mãe com 78? Ela está no grupo de risco.
Não, ela não pega, não.
Meu Deus do céu. O cara já perdeu duas tias de mais de 70 anos
e disse que todo dia expõe a mãe de 78 anos
porque acha que a Covid não pega quem está bem espiritualmente.
O curioso disso tudo é que ele acha que está bem espiritualmente.
Eu admiro essa autoestima.
Um sujeito morando com a mãe
e bebendo sozinho em bar em uma segunda.
Ele está com o corpo fechado. Ele é uma espécie de Dalai Lama.
Dá para ver que ele é um cara que está em outro plano que a gente.
O Covid olha para ele e fala: “Opa, vou mexer com isso”.
Covid peida para ele, com a aura tão brilhante que ele tem ali,
bebendo naquele bar.
Outro exemplo de negacionismo criado pela positividade tóxica
é o Dado Dolabella, que afirmou que “um corpo alcalino
e saudável não é agente transmissor de Covid”,
informação que não tem nenhum embasamento em dados
que não o Dolabella.
Ele disse que ia esperar uma vacina sem testes com animais
e falou que as coisas seriam diferentes se ele fosse vegano desde sempre,
justificando os episódios de violência que cometeu
como sendo culpa da carne.
Sabe gente que faz merda e culpa a bebida? Ele culpa a picanha.
“Desculpa, gata, vacilei contigo, porque eu estava doidão de alcatra.
Passei em um rodízio e enchi a lata de picanha.”
Já nessa pandemia, a postura negacionista “good vibes”
chegou inclusive aos grupos de praticantes de ioga.
Sim, muitos iogues têm recusado vacinas.
Acho que é isso que eles chamam de invertida.
É o pessoal da terra “prana”.
“Terrapranaiama.”
Próxima vez que fizer uma saudação ao sol,
o sol não vai saudar de volta.
Se eu fosse sol, ia mandar um melasma.
“Saudando é o caralho! Toma vacina!”
Um dos argumentos dos terraplanistas
é de que o uso de medicação pode afetar o funcionamento do organismo.
Sim, essa é a ideia da vacina.
Parabéns, entenderam o conceito! É exatamente isso.
Mas acham que a cura para todo problema físico e psicológico
está na mente e na natureza.
Outro dia, Gisele Bündchen se mostrou aliada dos negacionistas “tilelês”
ao defender uma colega modelo que é antivacina.
No Instagram, ela pediu para as pessoas não atacarem a colega “antivax”
e falou “me deixa triste ver todo o julgamento
e a falta de empatia no coração de tanta gente”.
Poucas coisas foram tão zoadas quanto a palavra empatia.
Virou qualquer coisa. Porque a pessoa quer ter o direito
de contaminar quantas pessoas quiser,
e a gente é obrigado a ter empatia com ela.
Que não tem empatia pelas pessoas que podem morrer.
Enfim, a positividade tóxica ainda é uma grande aliada do capitalismo
ao estimular uma responsabilização individual pelas injustiças
que o próprio sistema gera.
É como se dissessem: “Não deu certo para você,
não é porque o sistema é uma merda,
e você está fodido, explorado, humilhado.
Não deu certo porque você não se esforçou,
porque você não vibrou na frequência certa”.
Esse papo de frequência virou um mantra para os coachs da positividade,
como essa aqui falando sobre os motivos da falta de dinheiro.
Sim, já tive muito medo disso,
e o pensamento de escassez vem se a gente não cuida, né?
É tudo crença limitante que vem para a gente estar criando
nossa realidade o tempo inteiro,
então se a gente cocria escassez.
Mas hoje não tenho mais medo pois existe a frequência da abundância,
e quando você entra nela, é só coisa boa.
Inclusive, tenho um curso “Fórmula para Manifestar a Abundância”,
que já vai estar no ar para vocês,
em que trago as principais dicas.
Só penso no Compadre Washington: “que abundância!”
Tudo que uma pessoa com escassez de dinheiro
precisa é gastar dinheiro em um curso para não ficar pensando
que está sem dinheiro e achar que vive numa realidade onde ela tem dinheiro.
O nome disso não é cocriar, é delirar,
ou na psicanálise é “desassociar”.
Na verdade você vai, sim, se fizer o curso dela, cocriar abundância,
mas na conta de outrem.
Na bio dessa influencer, a Bruna Lock, ela diz que trabalha
com “atendimentos holísticos, constelação familiar
e terapias assistidas por cavalos”.
Sim, a princípio eu também pensei que fosse uma terapia
em que você se abria e o cavalo olhava para você assim: “fale mais”.
Mas não, eu pesquisei, o cavalo ajuda na terapia.
Ele deve ajudar a combater o “super-égua”.
É claro que a crença na força da positividade para gerar prosperidade
é também compartilhada por ela, a musa do Greg News,
quem conhece sabe, a Márcia Sensitiva, ou Sense Márcia.
Eu trouxe algumas simpatias que há muitos anos
a gente faz que são sensacionais.
A prosperidade é um poder mental, né?
Você tem que gostar do dinheiro! É a primeira.
Para nunca faltar alimento na sua casa: você pega um potinho assim…
Você vai colocando uma carreirinha de cada grão.
Pelo amor de Deus, é grana. É justiça e grana na sua vida.
Colocar no seu ralo principal, eu já coloco em todos,
canela, canela em pó. Simples assim.
Imaginando milhões, nada de dinheiro…
Moedas de ouro caindo na sua cabeça, e dinheiro.
Garoto, qual é o seu talento?
Escrever livro? Contar piada?
Falar sobre tragédia?
Gente, monta um canal no Youtube!
Escrever, contar piada e falar de tragédia.
Márcia, está falando sobre a minha vida! Gente, estou arrepiado.
Só eu que fiquei completamente emocionado aqui,
da Márcia ter descoberto o meu modelo de negócios?
Descobriu a razão que eu vibro na escassez.
É isso, Márcia, obrigado! Estou emocionado.
Mas a verdade é que acreditar que todo mundo
tem o poder de “cocriar” a abundância e a escassez,
muitas vezes, faz a gente se sentir responsável
por coisas que a gente não escolhe nem controla.
Mas ela também é uma crença bastante sedutora,
já que a gente gosta de sentir uma ilusão de poder e de controle.
Quem sabe disso muito bem são os publicitários,
que exploram muito essa nossa necessidade por positividade.
Muitos estudos mostram como as pessoas positivas
respondem melhor às mensagens publicitárias.
As pessoas positivas não só compram mais
como fazem isso de uma forma mais impulsiva.
O que faz sentido: de certa forma, essa lógica de acreditar
que a gente pode ter tudo o que quiser se tivermos pensamento positivo
é justamente o que sustenta uma economia de mercado,
e também sustenta a trama de “Lua de Cristal”, da Xuxa.
“Tudo que eu quiser, o cara lá de cima vai me dar.”
Porra, Xuxa. Podia pedir qualquer coisa para o cara lá de cima.
E o que pediu?
O Sérgio Mallandro em um cavalo branco?
Você pediu isso para Deus?
Casar com um sujeito regredido gritando “glu-glu, ié-ié”, é isso?
Foi isso que falou para o cara lá de cima?
Ninguém fez um uso tão ruim da proximidade com Deus.
Sim, porque ela fala com Deus como se fosse o vizinho do 502.
Custava pedir algo para o cara lá de cima
melhor que o Sérgio Mallandro assistido por cavalos?
Mas enfim, mensagens positivas
são as que têm maior alcance entre os consumidores.
Agora, adivinhem qual é a plataforma
em que as pessoas respondem melhor à publicidade hoje?
Ele mesmo, o TikTok, a menininha dos olhos da positividade tóxica.
Inclusive, tinha que mudar o nome para “TikTóxico”.
Ao ponto de todo mundo por lá estar misturando publicidade com dancinha:
É o cartão Santander SX.
Mas quais são os benefícios desse cartão?
Logo depois que você obter seu cartão, poderá dançar
a dancinha do Gil do Vigor, o “Tchaki Tchaki”.
Sim, cada um deles ganhou por essa dancinha
mais do que o orçamento para pesquisa sobre mudança climática no Brasil.
Não sei quanto eles ganharam,
mas o que sobrou de orçamento para pesquisa é basicamente zero,
o que torna essa dancinha ainda mais deprimente.
Também fora do TikTok, vemos rastros da influência
da positividade na publicidade o tempo todo.
Os comerciais de carro falam menos de coisas
como a potência do motor, ou o conforto dos assentos,
e mais de coisas como liberdade, independência, atitude.
Já os comerciais de banco, nem se fala.
Adoro esse comercial do Nubank.
O futuro é um conceito curioso.
Ele não existe ainda, mas é a razão porque a gente come brócolis,
que a gente treina, que a gente tem calo na mão, que a gente planta,
que a gente colhe, que a gente faz as contas, que a gente faz de conta,
que a gente vai embora,
que a gente tem fé.
Acho muito bizarro um banco falar “a gente”.
“A gente tem calo na mão…” Você é um banco, caralho!
Que calo na mão é esse? Não tem nem mão!
É um banco digital ainda.
Se fosse um calo no dedo, talvez,
um calo na mão invisível do mercado, talvez.
E sim, eles botaram na trilha sonora “Canto de Ossanha”,
a música do Baden e do Vinicius que diz:
“O homem que diz dou não dá”.
O que é muito curioso, um banco usar essa letra.
Por isso eles tiraram a letra. Imagina um falando para o outro:
“Diducha, vamos fazer sem letra uma versão?
Podem cair em cima da gente, Dido. Vamos fazer isso, meu?
Vão dizer que somos sovina,
que o homem que diz dou não dá, aí a gente tem que dá”.
Mas tem um outro terreno no qual a positividade tóxica
também pode ser uma arma muito poderosa,
a ponto de se tornar perversa: a política.
É no âmbito da política que a positividade tóxica
vira um instrumento de controle social
e mantém as pessoas em um estado de imobilidade.
Um sistema político baseado na desigualdade
precisa desse pilar fundamental que é a criação
de um mundo fantasioso e sem conflitos.
Gente indignada questiona, confronta, desobedece, dá trabalho.
Gente indignada reclama,
coisa que a Márcia já nos disse que não é uma boa ideia.
Se eu sou filha de Deus e Ele é maravilhoso e o universo é rico,
por que estou sem dinheiro?
Por que estou sem prosperidade? Porque não estou sabendo pegar.
Estou reclamando da vida. Pelo amor de Deus, reclamou, perdeu.
Não dá! Não dá para reclamar.
Poxa, Márcia.
Falou para eu fazer um canal de YouTube com tragédia…
Se eu não puder reclamar, fodeu a minha abundância.
Vou vibrar na escassez se eu não puder reclamar.
Todo meu modelo de negócios é baseado nisso.
Adoro que ela diz que o filho de Deus tem direito a tudo isso.
Ou seja, se não estiver dando certo,
talvez não seja filho de Deus, pede o DNA.
Nada é melhor para um sistema político
que entrega miséria e desigualdade do que um povo
que acha que reclamar da pobreza atrai mais pobreza.
Outro bom exemplo da positividade a serviço do conformismo
é o da Claudia Leitte, que durante a pandemia foi convidada
para o programa do Serginho Groisman e disse isso:
Claudinha, qual é a sua indignação?
A minha indignação? Tenho um coração pacificador.
Eu me indigno, e sou capaz de virar tudo assim
pelo avesso de chutar as barracas, mas…
Eu acho que todo mundo tem um lugar
onde pode brilhar uma luz para desfazer o que está acontecendo.
E se essa luz se acende, obviamente não vai ter escuridão.
É tão óbvio que parece dublado. Ela fala até meio…
“Não vai ter escuridão”.
Ela nem consegue falar isso de tão surreal.
Em pleno 2021, ela não consegue citar uma fonte de indignação.
Ela não consegue citar nada, só fala de luz,
cujo preço, inclusive, tem sido uma fonte de indignação
para todos que pagam boleto.
Quando tiver apagão, quero ver se a luz dela vai brilhar.
É especialmente preocupante que essa confiança cega
nos poderes da positividade seja uma característica
tão marcante da nossa cultura pop bem no momento
em que enfrentamos desafios sem precedentes,
não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Nem sempre foi assim: outras crises, ao longo da história,
já tiveram revoltas bem sangrentas.
A Revolução Francesa começou com uma crise econômica.
Uma seca tinha atingido as colheitas de trigo,
que era a fonte de alimento dos camponeses.
A população passava fome, enquanto os monarcas
só aumentavam os impostos.
No meio disso, a rainha Maria Antonieta teria dito
uma frase que muitos historiadores afirmam que ela nunca disse:
a famosa “se não têm pão, que comam brioches”.
Melhor que a Pugliesi, que teria dito: “Se não tem pão,
que comam essa barrinha de cereal da Nature Valley,
que ainda por cima não tem glúten, e tenho um cupom para você”.
Ou que a Vivi do TikTok, que diria apenas:
“Não tem pão?
Comam esse brioche”.
A população da França não achou graça
e guilhotinou a Maria Antonieta,
que foi a primeira vítima de cancelamento por um tweet.
Não deram nem tempo dela fazer o clássico vídeo pós-cancelamento.
“Não quis ofender ninguém e quem me conhece sabe que adoro brioche.”
Hoje em dia, Maria Antonieta não iria para guilhotina.
Ela teria milhões de seguidores no Instagram.
“Não tem pão? Então que tal começar a vibrar na frequência do brioche?”
Nem todo o mundo que vende positividade
faz coreografia ou trabalha com cristais.
Alguns usam terno e gravata e vivem na GloboNews.
Um bom exemplo disso é o dos analistas financeiros,
como o Ricardo Amorim, que lá em 2018 fez essa previsão
sobre o governo Bolsonaro:
O simples fato de o Jair Bolsonaro subir nas pesquisas na semana
que antecedeu o primeiro turno da eleição,
já foi o suficiente ter a Bolsa subindo muito e o dólar caindo muito.
Esse movimento seria ainda maior com a eleição efetiva do Bolsonaro.
Em outras palavras, o dólar pode cair para um nível próximo a R$ 3,30, R$ 3.
Deve cair bastante.
Esse cara vive de dar conselho financeiro.
Ele vive disso, não é um hobby.
E ele imaginou o Bolsonaro no cargo mais importante do país e falou:
“Sucesso, isso é dólar a três. Confia no pai que trabalho com isso”.
E o melhor é que, hoje, com o dólar a seis,
ele continua vivendo de quê? De previsões.
E tem gente que ouve.
Porque o modelo de negócio deles
não é analisar a realidade, mas vender a positividade.
Agora, o governo Bolsonaro levou a positividade tóxica
ao extremo durante a pandemia.
Enquanto o Brasil batia recordes na quantidade de mortos,
o governo criou “placar da vida”,
que contabilizava os “recuperados” da Covid.
Sem falar nas reclamações do presidente,
seus filhos e ministros com a imprensa que, segundo eles,
só dá notícia ruim sobre o governo.
Devemos lutar contra o vírus, e não contra o presidente.
Vamos destruir o vírus.
E não atacar o governo.
Acho que tem gente contra.
Desde que começou essa crise do coronavírus,
temos observado uma cobertura maciça de fatos negativos.
Os senhores tem também, a imprensa, eu conclamo, eu peço encarecidamente:
tem tanta coisa positiva acontecendo!
Agora, o que não se pode ter é só mostrar um lado.
Mas o que nós queremos, nós solicitamos,
é que a imprensa mostre os dois lados
para que a população não fique apavorada.
Achar uma notícia boa desse governo
é que nem procurar cogumelo que dá onda.
Tem que vasculhar na bosta. É bosta, bosta, bosta.
E tem que ser um dia que tenha chovido e feito sol,
ou seja, nos últimos meses foi quase impossível.
Confundem o trabalho da imprensa com o trabalho da Jovem Pan.
Pior ainda é o outro ministro tóxico do Bolsonaro,
o ministro da Economia, Paulo Guedes, que vive de espalhar um falso otimismo.
Tipo em março de 2020, quando chegou a dizer
que a economia brasileira podia crescer 2,5%,
mesmo com a pandemia do coronavírus.
E o Brasil acabou fechando o ano com queda de 4%.
Mas Bolsonaro já mostrou que existe um jeito mais positivo
de apresentar esse resultado, aplicando o pensamento positivo à matemática.
O crescimento de 5% positivo esse ano,
se ano passado foi 4% negativo,
crescemos 9%, isso é um milagre!
Eita! Sou de Humanas e doeu em mim, para terem uma ideia.
Não só ele supõe que esse ano a gente vai crescer 5%,
o que já não aconteceu, como ele não entende que esse crescimento
já seria medido em relação ao PIB desastroso do ano passado.
Ele faz uma conta que não existe, é impossível.
Cinco mais menos quatro… Enfim, sabe o que é isso?
Isso é ele vibrando na frequência da abundância.
É abundância entrando na nossa vida de maneira surpreendente e milagrosa.
Hoje, o país tem mais de 14 milhões de desempregados,
e a inflação já passou dos dois dígitos no acumulado.
E vejam o que o Paulo Guedes disse recentemente
em uma entrevista nos EUA:
A primeira coisa que eu diria é confiar na democracia brasileira.
Confie no nosso processo institucional.
Às vezes, um aqui, um ali, pode ser o presidente,
pode ser um deputado, pode ser um ministro do STF.
Às vezes, alguém faz um barulho,
mas o importante são as instituições.
As instituições funcionam.
Esse é o emprego do Paulo Guedes:
convencer os outros de que está tudo bem,
enquanto o chefe dele queima o país e o planeta.
O pior é que neste momento estamos especialmente vulnerável
a uma onda de positividade tóxica.
Ninguém mais aguenta tanto sofrimento.
Foram dois anos de morte, isolamento, falta de grana, inflação.
É natural que esteja todo mundo cansado de “bad vibes”.
O Brasil precisa mesmo de “good vibes”.
Mas “good vibes” precisam emanar da realidade,
de um plano concreto pra sair do buraco.
Não adianta a gente simplesmente pensar que “vai passar”.
A destruição das universidades, das escolas, dos serviços públicos,
dos ecossistemas, das instituições, da democracia,
isso não vai passar assim, por mágica.
A crise climática também não vai passar.
Nós, pessoas do planeta Terra,
vamos ter que mudar a forma como a gente gera energia,
constrói, se locomove, come e se organiza.
Se não fizermos isso, não tem como seguirmos vivos como civilização.
A gente precisa se organizar.
E isso só vai acontecer se a gente acreditar
que é possível mudar as coisas para melhor.
Também não vai ser com negatividade
que vamos reverter o curso desta crise gigantesca.
A negatividade também pode ser tóxica.
Ficar de braço cruzado, reclamando que a humanidade não presta,
que o Brasil não tem jeito e que não dá para fazer nada
é tão desmobilizante quanto ficar dizendo
que é só pensar positivo que vai dar certo.
Não vai ser nem a positividade nem a negatividade
que vão nos salvar sozinhas.
O revolucionário italiano Antonio Gramsci,
que hoje em dia teria um perfil chamado Instagramsci,
gostava de dizer que a atitude correta em um mundo injusto
é o que chamava de uma tensão entre um pessimismo da razão
com um otimismo da vontade.
“Pessimismo da razão” porque temos que ser capazes
de encarar a realidade implacavelmente,
com muita atenção ao que está errado no presente e aos riscos do futuro.
Tudo o que a positividade tóxica impede a gente de enxergar.
Mas também “otimismo da vontade”,
porque não podemos deixar de acreditar
que essa realidade imperfeita pode ser transformada.
Até porque o mundo pode mudar.
Nós, humanos, quando nos juntamos,
temos uma capacidade de transformação incomparável.
Quando aliada ao pessimismo,
a positividade pode deixar de ser tóxica para ser tática.
E, quando aplicada ao coletivo, ela tem ainda a enorme vantagem
de aproximar a gente do sofrimento, o nosso próprio e o dos outros.
A tensão entre negatividade e positividade
só se resolve na ação coletiva.
Ou seja, ela pode ser um enorme catalisador de solidariedade.
Ao invés de dançar sozinho, a gente começa a dançar junto.
Ao invés de falar para quem está sofrendo pensar positivo,
a gente se solidariza com a pessoa e a ajuda.
E se a solidariedade virar “trend”, talvez ainda exista esperança
para o nosso mundo doente.
Esse foi o Greg News!
Oi, gente, hoje vou ensinar umas simpatias para você.
Você que é rico para continuar vibrando cada vez mais
na energia da abundância.
Mas não é soprando canela, tá? Soprou canela, inclusive, perdeu.
O segredo chama PIX.
Coisa que dá muito mau agouro é enriquecer no meio da pandemia.
Gente morrendo, falindo…
Parente falido, funcionário endividado,
vizinho que pegou dinheiro com agiota? Faz um PIX para eles.
Isso dá uma sorte.
Vocês vão ver a abundância que vai gerar à sua volta.
Tem insônia? Insônia é carma.
As pessoas não falam disso, mas insônia é carma por dinheiro
que você recebeu de herança, no geral.
Na constelação familiar, tem muita gente com depressão.
Ficam se tratando com cristal,
mas a depressão muitas vezes é devido a um avô que era banqueiro.
Ou gente que é muito consumista,
isso é coisa de tataravô escravocrata.
Para liberar essa energia, só tem um jeito:
doar a fazenda dele para o MST.
É só aí que a energia sossega
e você começa a vibrar na frequência da abundância.
Sabe quando você está tranquilo e sente uma pinçada nas costas?
Isso é dinheiro em “off-shore”.
Você não vai ter paz enquanto tiver dinheiro lá fora.
O dinheiro tem que vir.
Tem que fazer uma simpatia, que chama declarar.
Declaração de renda. Isso para energia…
Pagar imposto para sua energia é um negócio que gera uma abundância
à sua volta que é um negócio que nunca vi.
Tem panela em casa? Tem uma simpatia que é boa também.
Você vai pegar a panela, vai pegar uma colher de pau
e vai bater, bater, bater na panela até Bolsonaro cair.
Vamos lá? Faz comigo.
Entendeu como a energia já está vibrando mais na abundância?
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